Todo país em desenvolvimento, e com ambição de inserção internacional tem algumas prioridades básicas. Pode começar pela região em que está inserido, passando por ações bilaterais e multilaterais, indo até meios mais influentes como a ONU.

Se o país não tem diretrizes de ação para sua política e inserção internacional ficará à deriva e ao sabor da história sem objetivos. No caso do país que mais cresce nas duas últimas décadas, isso não é diferente. E as ambições são muito grandes.

Em um relatório divulgado pela Academia Chinesa de Ciências Sociais (Cass, em inglês) foi apresentado as estratégias para o país em longo prazo. Apesar de não representar a posição oficial do Governo Chinês ele é levado em consideração pelo Ministério das Relações Exteriores para desenvolver novas políticas.

“Pomba da Paz”
É curioso, mas os chineses tem muita capacidade em dar nomes de efeito, resumir situações em poucas palavras. Digo isso através do grande número de “su hua”, os ditados populares que eles possuem. Mas a “Estratégia Pomba da Paz” representa como a China vê sua inserção internacional:

- Cabeça: É a ONU, com prioridade total. O país quer, cada vez mais peso nessa instituição. Isso não necessariamente representa que o país é a favor de uma reforma na ONU como muitos países em desenvolvimento, como o Brasil, querem;

- Peito: Como sabemos a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) é o maior fórum de discussão da região. Há algumas décadas atrás a China e a Índia tentaram lançar algo parecido e fracassaram. Agora a idéia chinesa é lançar a Associação Asiática (AA), que seria mais abrangente, sendo encabeçado por eles;

- Asas: Essas duas partes são constituídas pelo primeiro mundo: os EUA e a UE, representando que é necessário que o país ache um equilíbrio entre essas duas potências.
Na asa da direita está a APEC (Fórum de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico), da qual os EUA fazem parte.
Na asa esquerda está a União Européia, para a qual a China tem uma nova proposta. No ano corrente ocorrerá em Beijing o 7º Encontro Europa-Ásia e os chineses querem aproveitar a oportunidade para sugerir a criação da Cooperação-Econômica Ásia-Europa (AEEC, em inglês) que ajudaria a elevar, ainda mais, as conversas entre as duas partes.

- Traseiro: Estava faltando essa parte. E é nela que está a América Latina, África e Oceania. Mas caros amigos latino-americanos, africanos e demais amigos da Oceania, não julguem vocês que estamos no traseiro da pomba por pretensão chinesa. Tal conclusão só daria merda.

Parceiros Estratégicos
Até porque temos de lembrar que, sim, o Brasil (como exemplo) é um dos chamados “parceiros estratégicos” do país. A África é uma das regiões que mais recebem investimento chinês, chegando ao ponto de acusarem a China de “neo-colonialista”. E, a Oceania é a casa de muitos chineses e é uma região com enormes potenciais. Alías, o atual presidente australiano sabe até falar chinês. Então, é precipitado colocar essas regiões como “inferiores”. Mas, sem dúvida, no campo internacional ainda tem menos peso que os EUA e a UE.

Além disso, esse estudo diz que a China procura investir nas relações com países com as seguintes características: “ser inovador, ter muitos recursos, possuir uma grande população, ter cultura, ser amigável ou estar nos arredores da China”. Isso reforça o que acabo de falar, não?

E, vale sempre ressaltar, diálogo é feito sempre por duas partes. Cabe também a esses países definirem suas estratégias internacionais onde hoje, querendo ou não, a China está inserida. É preciso ir atrás antes de mais nada.

Mas está ficando cada vez mais comum dizer: “Nós precisamos da China, eles não precisam de nós” para justificar essa ‘corrida chinesa’. Muito cuidado, pois tudo há de ser feito com cuidado para que todos ganhem no resultado final.