Quando vi o encontro histórico entre os dois presidentes das Coréias fiquei curioso para saber qual era a opinião do povo, sem visão política ou coisa parecida, simplesmente queria saber a visão de quem está vivendo isso no dia a dia. Por isso, pedi a uma amiga coreana, que vive em Seul para me falar o que ela achava, apesar de relutante ela escreveu esse pequeno artigo para publicarmos aqui, agradecemos pois é muito interessante. Segue abaixo:

Por Hoo Jeong Kim

Acredito que esse encontro foi um bom passo rumo a unificação, espero sim poder ver a Coréia do Sul e a do Norte juntas antes de morrer. Porém, não quero que isso aconteça muito rápido devido a grande diferença que temos entre os dois países e acredito que esse é o sentimento aqui na Coréia do Sul.

Nós devemos aprender com a re-unificação das Alemanhas por eles já terem passado por isso recentemente e, ao que me parece, ainda há efeitos colaterais disso. É preciso cuidado. Com toda a diferença que temos agora, há o receio de haver uma guerra DEPOIS da unificação. Se feito de uma vez, com certeza haveria grande conflito entre as duas partes e, aqui na Coréia do Sul não queremos isso, pois, especialmente os mais jovens, acham que seríamos nós os maiores prejudicados.

Um fato interessante, que não iria atrapalhar a reunificação, mas é curioso notar , é nossa diferença cultural. Um exemplo é das línguas. Na Coréia do Sul usamos muito mais o inglês que os do norte, por exemplo: dizemos 샴푸, que é exatamente como inglês “shampoo”, já os norte-coreanos dizem 머리비누 (mo ri bi nu), onde 머리 é cabeça e 비누 é sabonete. É interessante ver que, apesar de apenas 50 anos separados, a diferença cultural já é bastante. Parece bobo, mas eu entendo apenas 40% do que os norte-coreanos falam!

Na verdade, os dois lados não estão preparados para isso, portanto é preciso fazer gradualmente, passo a passo, troca cultural primeiro, investimentos, viagens e aí unificação política, uma capital, um presidente e uma bandeira. É bom lembrar que esse encontro não significa reunificação e sim paz entre nós.

Sabemos que devemos ficar juntos e que, mais cedo ou mais tarde, nos unificaremos. E também é preciso ter cuidado, pois agora, na Ásia, estamos no meio de um “sanduíche”, no meio da alta tecnologia do Japão e da mão de obra barata da China. A quem interessa que fiquemos juntos?

Como estaremos inseridos nesse cenário? Juntos, com certeza faremos melhor, mas agora não é a hora.